O pós-divórcio e as dificuldades dos filhos

As transformações na sociedade contemporânea foram tão incisivas na vida dos casais que deram origem a novos arranjos familiares, entre esses, o pós-divórcio.

Judith Wallerstein realizou uma alentada pesquisa: seguiu por 25 anos a trajetória de uma centena de americanos, cujos pais haviam se divorciado e os comparou a um grupo pertencente a famílias intactas com características semelhantes. O estudo descartou os indivíduos com perturbações mentais anteriores ao divórcio. O resultado indicou que os filhos de divorciados revelaram maior descrença em suas possibilidades de manter relações amorosas. Dentre os homens que não casaram (40%) até à época do término do acompanhamento, uma alta percentagem (56%) nunca se relacionara sexualmente ou amorosamente com alguém, ao contrário do grupo das famílias intactas, no qual todos o haviam feito. As mulheres apresentaram-se tendentes à iniciação sexual mais precoce. Ambos os sexos foram mais gravemente afetados pelo uso de drogas. A maioria evidenciou um sentimento de perda em relação à infância e/ou adolescência.

Embora as pesquisas possam conter falhas, considerando-se a complexidade dos fatores envolvidos, quando bem elaboradas, elas nos dão uma idéia geral da situação. Revelam, por exemplo, que os filhos de divorciados não são, necessariamente, problemáticos. Há pessoas que, apesar dos fatores ambientais adversos, conseguem desenvolver bem o lado emocional. Crescem, apesar das adversidades. Nas separações bem elaboradas, em que os pais continuaram diligentes em relação às necessidades dos filhos, houve uma atenuação dos fatores prejudiciais advindos da separação do casal parental.

Não advogamos um retrocesso em relação ao estatuto do divórcio. Os maiores problemas surgem quando há uma inabilidade do casal em preservar a integridade emocional e identidade dos filhos (durante e após as separações). A consciência de que o final do casamento não significa o término das responsabilidades parentais é importante. Algumas vezes, infelizmente, ao abandonar o cônjuge, o indivíduo faz o mesmo com os filhos. Ao desejar se livrar do ”mau casamento”, rejeita a família.

O clima passional na maioria das separações torna necessária a ajuda externa. Os conflitos conjugais são, quase sempre, tentativas inadequadas de o indivíduo solucionar as questões afetivas anteriores ao casamento. As implicações emocionais os impedem de ajuizar desejos. Não havendo reconciliação é imprescindível a elaboração do luto pela perda do parceiro. O desenvolvimento emocional saudável dos filhos de casais divorciados depende, além da capacidade intrínseca de reagirem às situações adversas, da aptidão dos pais para superarem as mágoas e contendas, da capacidade parental para a construção de novos vínculos saudáveis e, especialmente, da continuidade da atenção e cuidados à prole.

A separação, na verdade, não é um processo circunscrito apenas ao casal, é algo que atinge todo o núcleo familiar. O divórcio é o ato que reabilita as prerrogativas civis do cidadão(ã), instância que ratifica uma separação já existente de fato, mas precisa contemplar com maiores cuidados as necessidades e direitos dos filhos.

Sônia Lobo é psicanalista didata do Núcleo Psicanalítico de Fortaleza
Fonte: NoOlhar.com :: Opinião
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