TELEVISÃO, VIOLÊNCIA E INFÂNCIA

TELEVISÃO, VIOLÊNCIA E INFÂNCIA 

“Vamos diretamente ao ponto: sim, ou não, a presença de inúmeros programas de televisão contendo inúmeras cenas de violência levam as crianças a apresentarem, elas mesmas, comportamentos violentos? Penso que devemos, antes de mais nada, admitir que pouco sabemos sobre a influência da televisão sobre o comportamento das pessoas.

Não somente é extremamente difícil aquilatar tal influência (há tantas outras a que uma pessoa está diariamente submetida) como o fenômeno televisão é ainda recente e muito dinâmico (a TV dos anos 60 é bem diferente da de hoje, por exemplo). Logo, devemos abandonar qualquer veleidade de afirmar que a referida influência existe ou não existe, ou é de um certo tipo ou de outro. Mas tal prudência não implica adiar o debate, pois alguns conhecimentos psicológicos sobre o desenvolvimento da criança nos permitem fazer algumas hipóteses sérias.

Um primeiro dado diz respeito à presença ou ausência de tendência agressiva natural nos seres humanos. Ora, hoje admite-se que tal tendência existe. Logo, devemos descartar a hipótese de que a criança nasceria ‘boa’, ‘pacífica’, e que a probabilidade de ela entrar em conflito com outras pessoas e a vontade de agredi-las seriam só decorrências das influências de uma sociedade adulta violenta, má, que perverteria a natureza inocente das crianças.

Uma das tarefas da educação consiste, pelo contrário, em levar a criança a colocar limites aos comportamentos que traduzem sua agressividade e a canalizar essa para ações pessoal e socialmente produtivas. Portanto, parece-me errado afirmar que exemplos de violência, sejam eles dados por adultos de carne e osso ou apresentados em filmes e programas de televisão, tornam violentos seres que, sem esses modelos, seriam absolutamente pacíficos. Todavia, parece-me igualmente errado daí chegar à conclusão de que tais exemplos nada mais fazem do que referendar uma natureza bélica inevitável.

Um segundo dado deve ser lembrado: a infância é a época da construção da identidade, ou seja, da árdua tarefa de ir decidindo qual a melhor resposta para a pergunta ‘quem sou eu?’ Tal resposta é sempre valorativa no sentido de que as imagens que cada um tem de si remetem a categorias como bom, mal, desejável, indesejável, certo, errado etc. Em uma frase: ser é ser valor. Pois bem, nessa construção da identidade, os valores que a sociedade adulta preza e promove têm grande influência. E aqui reencontramos o tema da violência. A pergunta a ser feita não é se a violência está presente ou não nas manifestações culturais (na verdade, sempre esteve presente), mas sim como é interpretada do ponto de vista dos valores.

É justamente nesse ponto que pode-se falar em influência da TV nos comportamentos infantis. Se os programas, além de exacerbar sua presença, associam a violência a determinados valores positivos, eles aumentam a probabilidade de as crianças construírem uma identidade na qual os comportamentos violentos ocupam lugar central.

Ora, hoje, esse é o caso de muitos programas: o recurso à violência é apresentado sempre como legítimo, superior ao uso da inteligência, como único recurso para ‘resolver conflitos’, como fonte de poder e glória. Em resumo, assiste-se às vezes a uma sacralização da violência, que pode levar jovens a construírem sua identidade e seu orgulho em torno dela. Em compensação, pode haver programas que também encenam a violência, mas com significado moral bem diferente: em vez de ser sacralizada, ela é situada num conjunto de valores que a transcendem.

Para ilustrar o raciocínio, tomemos o personagem Zorro, cujos seriados eram muito populares décadas atrás. Zorro emprega a violência? Sim. Ele luta? Sim. Ele é forte? Sim.

Mas vamos pensar um pouco mais sobre esse personagem. Qual é o motivo de sua violência? Lutar contra a injustiça. Quando ele a emprega? Quando os recursos da inteligência não são mais possíveis. Que tipo de violência emprega? Aquela que visa neutralizar o adversário. Que recompensa há para a violência? Nenhuma do ponto de vista financeiro e também nenhuma (pelo menos direta) do ponto de vista da reputação ou da glória, já que o herói esconde-se sob o anonimato de um pacato fazendeiro.

Pois bem, se analisarmos muitos dos programas que hoje encenam a luta, a violência, teremos um quadro valorativo diferente. O motivo da violência é, freqüentemente, aniquilar o outro, não porque é injusto, mas simplesmente porque fere interesses pessoais, porque ele representa o ‘não-eu’. A violência, traduzida pela força bruta de músculos e armas poderosíssimas, é apresentada como único e legítimo recurso. A violência não visa apenas neutralizar o adversário, mas sim destruí-lo por completo, matá-lo. E a recompensa é o poder e a glória.

É plausível pensar que o problema não é tanto a presença ou ausência de violência nos programas que é importante levar em conta, mas sim o tratamento ético dado a ela. A televisão não gera a violência, mas pode participar de um processo que a autoriza, a legitima, a glorifica.

Se hoje a violência tem aumentado na sociedade ocidental como um todo, não é apenas em razão das condições sociais (desemprego, exclusão social), mas também pelo fato de muitas pessoas a ela associarem sua auto-estima, sua identidade. Trata-se de um fenômeno cultural amplo, do qual a TV é apenas uma parte. Mas o fato de ela ser apenas parte do processo não a redime em absoluto. A dignidade impõe que ela reflita sobre seu papel social.

Yves de La Taille é professor livre-docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
Texto extraído da Folha de São Paulo.
Colaboração do SOP – Serviço de Orientação Psicopedagógica

Por que educação financeira para as crianças?

Por que educação financeira para as crianças?  

Ainda há quem pense que a busca por educação financeira se confunde com uma acelerada corrida atrás de riqueza e fortuna. Atrás do primeiro milhão e dos milhões seguintes. Isso é um dos claros sinais da falta de educação financeira. Educação financeira é muito mais do que isso.

Comecemos esclarecendo que o objetivo da educação financeira não é ensinar a ganhar mais dinheiro pelo simples objetivo de ter mais e mais dinheiro. Seria mais adequado dizer que é ensinar a viver dentro do seu padrão econômico, eliminando desperdícios, aproveitando oportunidades, valorizando o próprio patrimônio.

A educação financeira deve propiciar que as crianças aprendam a diferenciar necessidades de desejos e a perceber as possibilidades limitadas que o dinheiro pode atender. Elas devem aprender que podem sonhar um futuro financeiro melhor. Mas para realizá-lo, terão que aprender a fazer escolhas, a aproveitar oportunidades, a buscar formação e informação compatíveis com suas aspirações e muitas vezes a adiar desejos momentâneos para viabilizar a realização de algum objetivo importante. Terão que criar hábitos financeiros saudáveis que as afaste do consumismo desenfreado, mas ao mesmo tempo estimule-as a desfrutar dos prazeres que o dinheiro pode oferecer, sem tornarem-se escravas do dinheiro.

Falando de maneira bastante simples, seria como estimular as crianças a aprender a juntar e manter seu próprio dinheiro, para que elas possam comprar um sorvete sempre que queiram, mas que não se sintam tentadas a comprar logo em seguida o segundo, o terceiro ou o sorvete mais caro que houver, acabando com todas suas economias, expondo-as à frustração no dia seguinte de não poder comprar outro sorvete, porque gastaram todo o dinheiro no dia anterior.

Deixar de falar sobre dinheiro com as crianças talvez seja a maior falha que pais e escolas cometem. Permita que brinquem com moedinhas e cofrinhos desde muito cedo. Estimule-as a pagar pequenas compras e a receber o troco. Valorize atos de economia e poupança. Apresente produtos caros e baratos, duráveis e descartáveis, úteis e desnecessários e ajude-as a perceber as diferenças. Incentive o consumo planejado e consciente. Eduque-as a conservar brinquedos e roupas. Acredite nas ações empreendedoras. Ajude-as a acreditar numa situação melhor.

Por outro lado, assegure-se que elas presenciem bons exemplos domésticos como pesquisas de preço, negociações para valorizar seu dinheiro, controle e orçamento, responsabilidade financeira e principalmente equilíbrio entre gastos e possibilidades. É importante que elas aprendam que deve haver equilíbrio entre a prevenção para o futuro e os desfrutes no presente. Ajude-as a perceber que prazeres como a compra de brinquedos e roupas, ingressos de circo e de cinema, viagens de férias e passeios de final de semana são ou não possíveis de ser viabilizados porque há ou não dinheiro disponível. E que essa parte do dinheiro foi ou será reservada para isso. Cada parcela da renda deve ter sua finalidade. Tenha certeza que as crianças conscientes sabem e saberão valorizarmuito mais cada evento. A prática de lazer também pode ajudar na educação financeira. É apenas uma questão de aproveitar as oportunidades.

Muitas crianças presenciam brigas, discussões e reclamações domésticas decorrentes da falta ou mau uso do dinheiro em casa. Há pais que focam a educação financeira apenas nas ações de restrição e economia, chegando ao limiar da avareza. Esses são exemplos nocivos para a formação da cultura financeira.

Criar crianças financeiramente educadas é preparar adultos conscientes da importância do dinheiro na vida da gente. Pessoas que saibam que alguns itens de conformo e até certos luxos dependerão sempre da disponibilidade do dinheiro. Mas com a consciência do óbvio que dinheiro não é a coisa mais importante. Indivíduos que saibam desfrutar o presente, mas não se esqueçam de se preparar para o futuro. Gente consciente que saiba a falta que o dinheiro faz em algumas situações, mas que tenha se prevenido para nunca ser envolvido numa situação dessas.

Colaboração do SOP – Serviço de Orientação Psicopedagógica

Pais querem paz em casa; filhos querem os pais

Ter filhos exige tempo, dedicação, investimento, paciência e esforço. E a falta de tempo para estar com os filhos preocupa muitas mães e pais. Uma delas escreveu perguntando como demonstrar interesse pelas atividades dos filhos se trabalha o dia todo e, quando chega em casa, eles já estão se preparando para dormir, o que não permite que tenha, portanto, a chance de participar das brincadeiras deles e de acompanhar as descobertas que eles fazem.

É, parece que a cada ano que passa temos menos tempo para a família. Em geral, o trabalho dos pais tem exigido dedicação intensa e, além disso, ainda há o trânsito a enfrentar, a casa para administrar, as compras para fazer, a tensão e o cansaço que chegam quase ao limite do suportável. Será que é preciso ser assim mesmo? Creio que pode ser diferente, caso os pais priorizem certos períodos de seu tempo para a convivência com o filho.

Quem é que já tentou falar com determinada pessoa no horário de trabalho e não teve de ligar em outro momento porque ela estava em uma reunião ou fazendo alguma atividade que não permitia interrupção? Quase todo mundo. Mas quem já teve de esperar para tratar de um assunto com alguém porque a pessoa estava se dedicando aos filhos? Pouca gente.

Ouvi um pai dizer, certa vez, comentando justamente o que lhe acontecia quando chegava em casa à noite, depois do trabalho, que, nessa hora, tudo o que os filhos queriam eram os pais. Pois é, isso nos faz pensar que, talvez, a falta de tempo para os filhos seja resultado não apenas do acúmulo de tarefas mas também de falta de prioridade.

Todo mundo já ouviu dizer que, para o filho, importa muito mais a qualidade do tempo que seus pais dedicavam a ele do que a quantidade do tempo que seus pais dedicam. É verdade: 15 minutos de convivência com o filho são muito mais importantes tanto para a educação quanto para o afeto do que meio dia juntos sem o foco estar dirigido ao relacionamento entre eles. O problema, hoje, é que esses 15 minutos não têm recebido a atenção necessária dos pais.

Quantas vezes, no pouco tempo que passam com os filhos, os pais escutam o que eles falam sem ouvir, respondendo-lhes apenas com um “hã, hã”? Quantas vezes, nesses 15 minutos, os pais se dirigem ao filho sem ao menos olhar para o rosto dele? Quantas vezes, nesses 15 minutos, os pais não atendem mil telefonemas, muitas vezes para falar de trabalho?

E mais: muitos pais abrem mão de colocarem limites e de serem firmes com as regras estabelecidas para os filhos nesse período de 15 minutos porque acreditam que essa atitude prejudica a qualidade do pouco tempo que passam com eles. Ao contrário! Já que os pais têm pouco tempo, precisam aproveitá-lo para dirigir o processo educativo dos filhos. Não é se passando por “bonzinho” que se constrói um tempo de qualidade com o filho!

E no fim de semana? Será que os pais se lembram de dedicar pelo menos uma parte do tempo que têm disponível para acompanhar o filho em atividades do interesse dele? E, ao ver televisão ou na hora do jantar, por exemplo, dirigem-se a ele e buscam seus comentários? Ao conversar a respeito da escola e dos estudos, lembram-se de reconhecer os avanços que ele conseguiu, de fazer perguntas específicas que demonstrem estar a par dos acontecimentos?

Esses são apenas alguns exemplos que mostram o quanto podem passar despercebidos dos pais momentos que poderiam ser dedicados à convivência com os filhos, mas que ficam perdidos por causa do cansaço, do estresse, das atividades múltiplas que os pais têm de realizar. Seria bom aprender a respeitar esses 15 minutos.

Rosely Sayão

COMO ORIENTAR SEU FILHO A ESTUDAR

Estimule seu filho a obter bom rendimento escolar, procurando estabelecer, junto com ele, uma metodologia de estudo.

 

  1. LOCAL DE ESTUDO:

  Para que seu filho mantenha a atenção concentrada nos estudos, é necessário:

*  Escolher um lugar livre de interferências de pessoas ou ruídos e com boa iluminação.

*  Ter o material escolar sempre à mão.

*  Manter seus apontamentos em dia.

  1. DISTRIBUIÇÃO DO TEMPO:

O tempo parece sempre limitado. Precisa ser usado racionalmente. Em vista disso, procure:

*  Estabelecer um horário semanal de estudo, distribuindo dentro dele todas as disciplinas, o tempo para o lazer e para as atividades extra-escolares.

*  Reservar mais tempo para as matérias mais difíceis, deixar um tempo razoável para as matérias de dificuldade média, menos tempo para as mais fáceis.

*  Criar o hábito de estudar seriamente, sem “retalhar” o tempo de estudo.

  1. COMO ESTUDAR EM CASA:

–    Seguindo pois o horário semanal de estudo, estimule seu filho a:

*    Realizar as tarefas indicadas;

*    Rever os conteúdos do dia;

*    Preparar-se para as lições do dia seguinte;

*  Descobrir por qual sistema de estudo ele consegue dominar melhor os assuntos de cada disciplina: é escrevendo? lendo em voz alta? fazendo resumos ou esquemas? repetindo exercícios?

–    Em todas as disciplinas, é importante:

*    Ler pausadamente todo o texto para maior compreensão do conteúdo dentro do conjunto;

*    Selecionar os aspectos mais importantes;

*    Estudar cada parte, até fixar os dados selecionados.

Uma boa orientação de estudo contribui para o desenvolvimento da responsabilidade e facilita a aprendizagem.

 

Serviço de Orientação Psicopedagógica – SOP

                                                   “Educar pelo Bom Exemplo.”

Os pais podem ajudar no rendimento escolar de seu filho…

…quando fazem com que o filho se sinta amado e valorizado, provocando nele o sentimento de segurança;

…quando admiram e elogiam sua capacidade de fazer amigos e aprender a obter o que quer por si mesmo;

…quando o fazem compreender que o que dizem é verdadeiro, quando lhe mostram que idéias, sentimentos, desejos, conhecimentos e crenças podem ser expressos em palavras;

…quando demonstram interesse pelo que ele faz, quando admiram o que traz para casa, como desenhos e trabalhos;

…quando zelam pela conservação e manutenção do material do filho;

…quando o auxiliam na obtenção e manutenção de hábitos de estudo, de higiene, de assiduidade, de pontualidade e de disciplina;

…quando respeitam o ritmo de aprendizagem da criança;

…quando evitam compará-lo com outras crianças;

…quando demonstram que aprovam a professora;

…quando apóiam seu filho na resolução das atividades escolares;

…quando procuram a escola, participando, sempre que possível, de atividades que permitam seu envolvimento;

…enfim, quando procuram acompanhar o trabalho que a escola vem realizando com seu filho, fortalecendo o vínculo escola-família.

 

(Texto adaptado pelo Serviço de Orientação Psicopedagógica – SOP)

 

 

O que o filho perde ao ser mimado pelos pais

O que o filho perde ao ser mimado pelos pais

 

É sempre oportuno falar sobre a proteção que os pais praticam com os filhos, já que ela tem se mostrado excessiva e inibitória. Mimo demais sempre é bom, não é? Claro que é, todos sabem disso. Mesmo o adulto, às vezes, bem que gostaria de ser mimado, poupado, ter seus caprichos atendidos. O problema se dá quando esse mimo impede o filho de aprender a enfrentar a vida e a se esforçar — e é o que tem acontecido muito. E quem sabe muito bem a esse respeito — até mais do que gostariam — são os educadores escolares.
A mãe de uma garota de 12 anos foi à escola reclamar do que estavam exigindo de sua filha por lá. É que a avaliação tinha chegado em casa: o rendimento era considerado inferior, e a menina declarara, tanto para a mãe como para a escola, que não gostava mesmo de estudar, que era muito chato ter de ler, resolver problemas e assistir a aulas todos os dias, que ela não tinha interesse nessas coisas e que gostava mesmo era de cozinhar e de desenhar.
O que foi a mãe dizer para a escola? Que os professores bem que poderiam entender que o talento da filha era outro, que poderiam avaliar a aluna de acordo com os interesses dela e que não concordava com a posição da escola. Agora vamos pensar no que pode significar uma atitude desse tipo, nada incomum hoje.
Em primeiro lugar, significa que os pais subestimam o potencial que os filhos têm para aprender a perseverar em uma atividade para dar conta dela e para se dedicarem com afinco quando são exigidos a encarar um desafio. E isso não é bom para a criança, que passa a acreditar que a vida gira em torno dos interesses dela, ou seja, do que gosta e do que não gosta de fazer. Além disso, a criança fica entregue a seus próprios caprichos e perde a grande chance de se encontrar com novas possibilidades de viver, que não considera por ser seu mundo centrado em si mesma.
Os pais também passam uma outra mensagem para o filho quando acolhem seu descontentamento com o estudo: o de que na vida não vale se esforçar por nada. Que as pessoas terão de aprender a conviver com ele do jeito que ele é. Há coisa mais prepotente e individualista do que essa? “Eu sou assim, você tem de me aceitar como sou” é a expressão que impossibilita diálogo, mudança, reflexão. Fora o fato de que é uma luta de poder, não é?
E mais: agindo assim, os pais ensinam também que, ao se defrontar com um limite, uma barreira, um obstáculo na vida, o melhor é recuar, abandonar, mudar de rumo, sem ao menos tentar para verificar se tal limite não pode ser superado.
E sabe que os pais que agem assim acreditam que fazem de tudo para preparar o filho para enfrentar um mundo competitivo ao extremo? Só que, ao mesmo tempo em que lotam a agenda do filho para que ele adquira competências e habilidades (esportes, línguas etc.), minam todo esse trabalho com o tipo de formação familiar que dão aos filhos quando defendem apenas seu bem-estar.
Dá para entender como é difícil para os pais seguir encorajando o filho a se esforçar e a perseverar nos estudos num mundo em que o prazer e a felicidade são perseguidos a qualquer custo. Mas é preciso, já que mesmo o prazer e a felicidade têm um custo: o do compromisso e o da coragem para enfrentar os riscos, por exemplo.
Se os pais acolhem as limitações dos filhos e não os encorajam nem os desafiam a pelo menos tentar se debruçar sobre o que consideram árduo, eles não vão aprender a se controlar, a fazer escolhas, a se dedicar a alguma coisa com convicção e dedicação.

ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de “Sexo é Sexo” (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br.

 

 

Dica de Leitura da Biblioteca

“Pais Brilhantes, Professores Fascinantes” nos faz refletir e nos permite perceber como atitudes verdadeiramente simples e posturas corajosas diante da vida podem transformar a educação e ajudar nossos filhos a crescerem com melhores perspectivas.

Neste livro o psiquiatra e cientista Augusto Cury mostra que é preciso cultivar a emoção e expandir a inteligência dos seres humanos.”

 

 

 

 

 

 

Pais Brilhantes, Professores Fascinantes

Autor: Augusto Cury
Editora: Sextante

O PsicólogoEscola

O PsicólogoEscola

Márcia Quinderé

A evolução da sociedade chega ao 3º milênio com inúmeras transformações que refletem na escola. Aliás, a escola talvez seja um dos locais onde mais se percebem tais mudanças, principalmente as ocorridas na esfera familiar.

A psicologia escolar se coloca, dessa forma, inserida em um ambiente educacional, disponibilizando seu saber e seu olhar em função do processo ensino/aprendizagem.

Como psicóloga da educação infantil em uma escola de grande porte deparo-me, algumas vezes, com pais angustiados com a idéia pré-concebida de que criança pequena só deve estudar em escola pequena. Digo pré-concebida, pois acredito que a escola deve ser avaliada pela sua excelência educacional e não pelo seu tamanho físico.

São inúmeras as demandas onde se faz necessária a intervenção de um psicólogo escolar, não como uma ação isolada, mas totalmente integrada em uma equipe multidisciplinar de trabalho.

O trabalho integrado à supervisão e coordenação pedagógicas possibilita um olhar psicológico desde a definição dos conteúdos, passando pelo planejamento, metodologia, didática, seleção e treinamento de professores.

Entendo que a principal meta de um psicólogo escolar seja o trabalho profilático, principalmente nas séries iniciais, onde o sujeito em formação está mais passível de medidas preventivas nas diversas áreas de seu desenvolvimento.

Nossas crianças são fruto de famílias que passam por um momento de ajuste entre o autoritarismo do início do século passado e a permissividade do final. Nunca a autoridade dos pais foi tão questionada, mencionada em textos e transformada em vários títulos de auto-ajuda. Provavelmente, essa é a principal questão que chega até o psicólogo escolar, a falta de definição dos papéis parentais, a desagregação familiar e a dificuldade em se colocar limites aos filhos.

A falta de clareza no estabelecimento dos limites dá margem a uma série de problemas que podem comprometer a socialização e a aprendizagem da criança.

Penso que o verbo ”Cuidar” diz muito da ação do Psicólogo Escolar, pois é na perspectiva de prevenir, observar, detectar, orientar, acompanhar e, às vezes, encaminhar a profissionais especializados que está centrado seu trabalho, uma vez que a intervenção psicoterápica é exclusiva da psicologia clínica e não da escola.

PSICÓLOGA da Educação Infantil do Colégio Ari de Sá
Fonte: NoOlhar.com :: Jornal do Leitor
 

O pós-divórcio e as dificuldades dos filhos

As transformações na sociedade contemporânea foram tão incisivas na vida dos casais que deram origem a novos arranjos familiares, entre esses, o pós-divórcio.

Judith Wallerstein realizou uma alentada pesquisa: seguiu por 25 anos a trajetória de uma centena de americanos, cujos pais haviam se divorciado e os comparou a um grupo pertencente a famílias intactas com características semelhantes. O estudo descartou os indivíduos com perturbações mentais anteriores ao divórcio. O resultado indicou que os filhos de divorciados revelaram maior descrença em suas possibilidades de manter relações amorosas. Dentre os homens que não casaram (40%) até à época do término do acompanhamento, uma alta percentagem (56%) nunca se relacionara sexualmente ou amorosamente com alguém, ao contrário do grupo das famílias intactas, no qual todos o haviam feito. As mulheres apresentaram-se tendentes à iniciação sexual mais precoce. Ambos os sexos foram mais gravemente afetados pelo uso de drogas. A maioria evidenciou um sentimento de perda em relação à infância e/ou adolescência.

Embora as pesquisas possam conter falhas, considerando-se a complexidade dos fatores envolvidos, quando bem elaboradas, elas nos dão uma idéia geral da situação. Revelam, por exemplo, que os filhos de divorciados não são, necessariamente, problemáticos. Há pessoas que, apesar dos fatores ambientais adversos, conseguem desenvolver bem o lado emocional. Crescem, apesar das adversidades. Nas separações bem elaboradas, em que os pais continuaram diligentes em relação às necessidades dos filhos, houve uma atenuação dos fatores prejudiciais advindos da separação do casal parental.

Não advogamos um retrocesso em relação ao estatuto do divórcio. Os maiores problemas surgem quando há uma inabilidade do casal em preservar a integridade emocional e identidade dos filhos (durante e após as separações). A consciência de que o final do casamento não significa o término das responsabilidades parentais é importante. Algumas vezes, infelizmente, ao abandonar o cônjuge, o indivíduo faz o mesmo com os filhos. Ao desejar se livrar do ”mau casamento”, rejeita a família.

O clima passional na maioria das separações torna necessária a ajuda externa. Os conflitos conjugais são, quase sempre, tentativas inadequadas de o indivíduo solucionar as questões afetivas anteriores ao casamento. As implicações emocionais os impedem de ajuizar desejos. Não havendo reconciliação é imprescindível a elaboração do luto pela perda do parceiro. O desenvolvimento emocional saudável dos filhos de casais divorciados depende, além da capacidade intrínseca de reagirem às situações adversas, da aptidão dos pais para superarem as mágoas e contendas, da capacidade parental para a construção de novos vínculos saudáveis e, especialmente, da continuidade da atenção e cuidados à prole.

A separação, na verdade, não é um processo circunscrito apenas ao casal, é algo que atinge todo o núcleo familiar. O divórcio é o ato que reabilita as prerrogativas civis do cidadão(ã), instância que ratifica uma separação já existente de fato, mas precisa contemplar com maiores cuidados as necessidades e direitos dos filhos.

Sônia Lobo é psicanalista didata do Núcleo Psicanalítico de Fortaleza
Fonte: NoOlhar.com :: Opinião

Ensine seu filho a se valorizar pelo que ele é

Ensine seu filho a se valorizar pelo que ele é

Os filhos são um poço sem fim de demandas: eles querem ter coisas, eles querem fazer coisas, eles querem, eles querem e eles pedem tudo o que querem sem o menor constrangimento. Alguns são bastante enfáticos nos pedidos que fazem, outros são sedutores, e outros, por puro aprendizado, fruto da observação da atitude dos adultos, são capazes de fazer chantagens que pegam fundo na alma da maioria dos pais. Mas o resultado é quase sempre o mesmo: os pais acham difícil resistir ao pedido que o filho faz. Afinal, quem é que não quer ver o filho satisfeito e feliz?

O problema é que nem sempre é possível atender a todos os pedidos, principalmente quando eles se referem – e quase sempre se referem – ao consumo.

Quem é que não conhece pais que já fizeram um esforço imenso – muito maior do que poderiam ou deveriam – para comprar um determinado brinquedo ao filho, para dar a ele uma roupa ou um calçado de grife, para possibilitar uma viagem especial ou coisa que o valha? É sobre essa situação que vamos falar aqui. Ou seja, quando o pedido do filho se transforma em prioridade ou em meta financeira para os pais, ainda que o estilo de vida deles não combine com esse pedido.

A criança não vem ao mundo com qualquer noção da realidade de vida que a espera. Ela deve ser introduzida, por meio da ação dos pais, aos poucos, à realidade, ao mundo que tem limites e regras, que exige espera para a satisfação dos impulsos, que provoca frustrações e que nem sempre permite que as pessoas tenham boa parte daquilo que está disponível para o consumo.

Pois bem: se não se defrontar com esses limites desde cedo, com essas impossibilidades que terá necessariamente de enfrentar no futuro, a criança vai construir uma imagem bastante deturpada de si mesma, de sua relação com os pais e, conseqüentemente, com a vida. Ela vai achar que os pais têm a obrigação de fazer tudo, de passar por qualquer sacrifício para atender suas demandas.

Pode parecer que essa situação tem relação direta apenas com tudo o que se relaciona ao consumo, porém o alcance dessa história é muito maior.

Em geral, os pais querem oferecer ao filho tudo do bom e do melhor  – e com razão. Essa expectativa é muito positiva, pois expressa a importância que os pais dão ao filho que tiveram. Mas acontece que oferecer à criança ou ao adolescente tudo do bom e do melhor não deve se restringir a objetos, coisas, produtos, consumo de qualquer tipo. Isso se refere também – e principalmente – aos cuidados com a saúde e a educação do filho. E é bom marcar que educação não se restringe, por sua vez, à escolarização.

É preciso bastante cuidado para que o filho tenha condições de aprender a se perceber e a se valorizar pelo que ele é, pelo que pensa, pela maneira como se relaciona com os outros e com a vida, e não pelo que ele tem. E isso não é nada fácil de conseguir com o estilo de vida que adotamos atualmente. Mas, mesmo com dificuldade, os pais têm muitas chances de ajudar o filho a crescer valorizando o que há de humano na vida.

Querer ter coisas é salutar, desde que isso tenha uma medida  – a da realidade da pessoa e de suas possibilidades, por exemplo – e desde que não se transforme no aspecto mais importante da vida da pessoa. As crianças e os adolescentes são bombardeados diariamente pelo mercado de consumo. Cabe aos pais a formação para que o filho não sucumba sem crítica a tais apelos.

ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação da Folha de São Paulo
Colaboração do SOP – Serviço de Orientação Psicopedagógica

É PRECISO TER AUTORIDADE

É PRECISO TER AUTORIDADE 

Ser pai nos dias de hoje não é fácil. O mundo está cheio de opções, e até
tarefas aparentemente simples, como escolher um tênis para presentear o filho, são complexas. Trinta anos atrás existiam apenas cinco marcas. Hoje são dezenas. Na hora de comprar o calçado, o pai precisará avaliar se ele será usado para correr, para andar no mato, para sair à noite ou para jogar basquete. Precisa lembrar se o filho pisa com o joelho virado para dentro ou para fora, se a perna de impulsão é a direita ou a esquerda. Esse enorme leque de opções se repete no processo de educação e formação do adolescente. Os pais têm de enfrentar desde a escolha do modelo de escola ideal até o dilema da escolha da profissão. A boa educação, hoje, implica ter posição formada sobre cada um desses assuntos. As variáveis são tantas que os pais precisam ser extremamente cuidadosos para que a postura adotada com relação a um aspecto da vida do jovem não entre em contradição com a adotada em outro. Nesse ponto, a conduta no que se refere aos filhos é como um bambu. Ele pode ser vergado para cá e para lá ao sabor das mudanças – mas não pode ser quebrado.

Um aspecto crucial na educação é a autoridade. Muitos pais temem perder o amor dos filhos se forem firmes nas regras e nas cobranças. Todo mundo sabe que adolescente contrariado é encrenca na certa. Como uma criança birrenta, ele reclama, briga e faz escândalo, dentro de uma escala proporcional a seu tamanho. Nesse ponto os pais não podem ceder. Precisam estar conscientes de que, como todo mundo, os jovens não dão afeto a pessoas que não respeitam. Se os pais forem omissos e ficarem quietos por medo de perder o amor do filho, correm o risco de se ver menosprezados e ignorados. Aí o afeto e a cumplicidade que eles queriam preservar acabam se esvaindo completamente. Um pai ou uma mãe que engole os próprios princípios e se cala a cada malcriação dá um atestado de que não se respeita e os filhos entendem isso como um sinal para que não o respeitem também. Engolir sapo significa deseducar com grande probabilidade de estar criando um pequeno tirano dentro de casa.

Exercer autoridade de pai e de mãe exige sabedoria. Os limites precisam ser sempre colocados em função de algo e exercidos visando ao bem-estar de toda a família. Necessitam estar a serviço da qualidade de vida e da educação do filho. Nunca de um capricho. Muitos pais acreditam que dar o bom exemplo é suficiente, o que não é verdade. Sem uma determinação clara, os filhos não o perceberão e não o seguirão. No outro extremo, abusar de proibições e punições por si só também não funciona. Os filhos precisam aprender, e cabe aos pais ensinar. Se um filho não quer estudar, não adianta nada os pais se valerem de seu poder, trancá-lo no quarto e obrigá-lo a sair com a matéria decorada. O adolescente não vai estudar e pronto. Por outro lado, os pais podem negociar e dizer que ele vai poder sair, fazer o que quiser, desde que lhes explique o assunto que precisa estudar com suas próprias palavras. Ele terá então estímulo para se debruçar sobre os livros e até se abrirá um canal para que esclareça dúvidas com a ajuda dos pais. Muitas vezes o jovem não estuda simplesmente porque não entende a matéria. Esse é um bom exemplo em que a autoridade estaria sendo usada para a evolução do filho. A maioria dos pais, quando exerce autoridade, simplesmente proíbe o que o filho gosta de fazer. Na verdade, eles deveriam reorientar momentaneamente a energia que o adolescente gostaria numa atividade para outra. Sempre é possível mudar para melhor. O ser humano é o único que pode mudar sua história, pois tem inteligência e criatividade.

Adaptado do texto de Içami Tiba pelo Serviço de Orientação Psicopedagógico (SOP)

CONTRARIAR FAZ PARTE DO PROCESSO DE EDUCAR

Colocar limites:

CONTRARIAR FAZ PARTE DO PROCESSO DE EDUCAR  

Uma mãe aproveitou um encontro casual que teve comigo para fazer uma reclamação: ela diz que gosta muito de refletir sobre a educação que pratica com seus filhos, usando os assuntos propostos em nossas conversas, mas que gostaria muito mais se eu desse uma amenizada no papel e na responsabilidade dos pais. “Por que somos só nós, os pais, que devemos dizer ao filho que ele não pode isso ou aquilo de que ele gosta ou que quer tanto ou que ele precisa fazer isso ou aquilo, mesmo contrariado?” Essa pergunta expressa o mal-estar que a tarefa de educar provoca e que é compartilhado por muitos pais e professores.

Acontece que os educadores são porta-vozes de más notícias para crianças e adolescentes,  filhos e alunos: que eles não são o centro do mundo, que conviver com um grupo limita o modo de viver e de estar no mundo, que não é possível fazer apenas aquilo de que se gosta, que muitas vezes é preciso esperar para conseguir o que se almeja ou sonha e também batalhar para isso, que é preciso concentração e perseverança para estudar, que a maioria das coisas se consegue com muito esforço e dedicação, que escolher pressupõe perder, que encarar frustrações é preciso etc. Os pais e os professores são uma espécie de estraga-prazeres na vida de seus filhos e alunos. Claro que o papel do educador não é apenas esse, mas inclui essas tarefas, já que o educador representa a cultura e a civilização para as novas gerações.

Tem sido bem difícil arcar com essa parte, não é verdade? Por quê? Talvez porque o adulto não esteja tão convencido assim de que esse caminho é inevitável, já que o modo de viver atual é uma busca incessante de prazer e de bem-estar. Ora, se o adulto pensa assim, como atrapalhar a vida dos filhos e alunos?

Acontece que pais e professores que evitam contrariar filhos e alunos o quanto podem sempre terminam por esbarrar nas conseqüências que, em geral, essa atitude provoca: torna-se mais e mais difícil conviver com filhos e alunos, as birras e as transgressões beiram o insuportável, e os deveres mínimos não são cumpridos. É nesse momento que muitos pais ou professores simplesmente desistem de sua tarefa: entregam tudo ao deus-dará.

Para evitar esse impasse, muitas famílias têm-se unido às escolas, constituindo o que eles chamam de parceria, cujo objetivo é “falar a mesma língua” com a criança. Na realidade, essa parceria com tal finalidade é um instrumento – muitas vezes eficaz – para que os educadores sustentem sua posição de estraga-prazeres com mais firmeza.

O funcionamento é simples: “Já que temos de dar as más notícias, vamos todos falar juntos; assim ficamos mais fortes, e a criança e o adolescente não têm saída”. Pode ser eficaz, mas submete filhos e alunos a um mesmo tipo de discurso e, portanto, eles ficam sem escolha. Já deu para perceber que isso, sim, é que é autoritário, não deu?

Os educadores precisam ter uma meta clara que justifique a ação que tantas vezes provoca descontentamento e/ou desconforto da parte de quem está sendo educado. Mas é justamente isso que é difícil hoje: como sustentar a idéia de que a vida em grupo, mesmo restringindo a vida pessoal, tem seus benefícios em tempos de individualismo exacerbado e dificuldade de convivência no espaço público? Como garantir que, aprendendo a viver assim, o futuro poderá ser melhor?

É nessa hora que o educador precisa ter a convicção de que esse mundo pode mudar e melhorar e que cabe à nova geração protagonizar pelo menos o início dessa mudança. Uma amiga educadora chama isso de pedagogia da esperança. Muito bem nomeado, já que quem educa sempre tem esse anseio, mesmo que esquecido.

Voltando à reclamação da leitora: não dá para subtrair do papel educativo de pais e professores essa parte chata de interação com filhos e alunos. Mas dá um novo colorido quando pensado desse modo, não dá?

ROSELY SAYÃO é psicóloga e consultora em educação.
Colaboração do SOP – Serviço de Orientação Psicopedagógica.